Logo que voltei de férias do Paraná, na mesma tarde o Prof. Miguel veio me visitar, junto dele trazia uma crônica feita pelo editor do Jornal Dois Irmãos sobre a Formatura do Ensino Médio do Affonso Wolf. Ao ler fui obrigado a rir, pois aquilo me pareceu um desabafo do “patinho feio”, que foi convidado para uma festa e ninguém deu muita atenção. Para sua infelicidade sentou-se do lado do Professor Miguel, e como é em todas as cerimônias da escola, fruto do grande carisma que tem, os formandos cumprimentavam o Miguel e passavam direto pelo cidadão sem cumprimentá-lo. Isso deve ter o deixado um tanto enciumado. Ele, em seu tablóide de fofocas, fez várias observações e várias críticas ao cerimonial da escola, mas todas sem importância se comparadas à atitude do “nobre” de levantar e deixar a solenidade. Abaixo publiquei a crônica que o Paulo Sant’na fez em homenagem à ele em 2005. Boa leitura e divirtam-se.
Dito e feito
Anteontem presenciei o chato da Caverna do Ratão. Estava lotado o bar tradicional da Avenida Protásio Alves.
Enquanto íamos devorando os sanduíches de lombinho e bolos de carne, uma certa expectativa tensa passou a tomar conta de todos nós. É que o local era propício para que a qualquer momento emergisse no ambiente um chato carregado de intempestividade.
Dito e feito. O chato saiu de uma mesa lá do fundo e veio direto à nossa mesa.
Como eu disse outro dia, o chato escolhe na mesa um cabeça-de-ponte, uma referência, a plataforma pela qual ele expandirá toda a potência da sua inconveniência.
O chato afetou que se dirigia ao banheiro e lançou uma frase a mim, chamando-me pelo nome, fez-me uma pergunta de resposta rápida e foi mesmo ao banheiro.
Eu falei aos meus colegas de mesa: "Ele está no banheiro mas não está fazendo pipi, está apenas se concentrando para o ataque final, quando passar novamente por aqui".
Dito e feito. O chato da Caverna do Ratão abriu a porta do banheiro e veio para cima de nós com tudo que tinha direito.
Encheu o saco por vários minutos, durante os quais os chopes e os sanduíches perderam seu delicioso sabor e deram lugar a uma estafa cruciante.
Afastou-se, foi para sua mesa, pagou a conta, saiu com seus dois amigos e, quando iam se retirando, ameaçou da porta: "Voltaremos".
Atendi pela nonagésima vez o telefone ontem: "Sant'Ana, sou o filho do Moab Caldas, moro em Dois Irmãos. Foi feita aqui uma pesquisa em todos os colégios da cidade e tu foste eleito a pessoa preferida para ser entrevistada pela revista local. Preciso dessa entrevista para hoje".
Respondo que não dava para hoje, havia outras cinco cidades já inscritas, só para me entrevistar hoje.
Ele disse: "Parece que tu não estás entendendo, estou na estrada, falando do celular, daqui a 20 minutos estou aí na Zero Hora".
Dito e feito. Dali a 20 minutos, estava na minha frente, enquanto eu escrevia as linhas acima sobre o chato da Caverna do Ratão, o entrevistador de Dois Irmãos.
Chegou batendo fotos, enquanto eu escrevia esta coluna. Depois, fez uma série de perguntas, duas das quais vou chupar da revista de Dois Irmãos e transcrevê-las para todos os leitores do Rio Grande do Sul.
Primeira pergunta do entrevistador: "Quem já morreu que deveria ainda estar vivo?"
Minha resposta: "Maurício Sirotsky. Mas quem ainda está vivo e deveria já estar morto para não andar incomodando quem trabalha: a pessoa que me entrevista neste momento".
Segunda pergunta do entrevistador: "Você já disse em várias entrevistas que teve duas mulheres por dentro (casamentos) e muitas mulheres por fora (retoços). O que foi que elas lhe provocaram: prazeres, alegrias, sofrimentos, tristezas?"
Minha resposta: "Enormes prejuízos financeiros".
Publicado em ZH coluna Paulo Sant'ana 17/12/2005