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sábado, setembro 22

PELA DEMOCRACIA O SENADO DEVE ACABAR

Rui Falcão, FSP 20/09/2007
A existência do Senado é um desserviço à democracia brasileira. É chegada a hora de discutir o fim do sistema bicameral do país
A absolvição do senador Renan Calheiros pode contribuir, paradoxalmente, para aperfeiçoar a democracia se a reflexão sobre o escândalo transpuser as considerações de caráter circunstancial.
Ler o artigo publicado na FSP ...

FRAUDE DOS SELOS: MACALÃO FALA MAIS

O ex-diretor de Serviços Administrativos da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, Ubirajara Macalão, prestou novo depoimento à Polícia Federal na tarde desta sexta-feira. O novo depoimento, que durou cerca de duas horas, foi motivado por novos fatos levantados pela PF durante as investigações do caso. Macalão citou o nome de três deputados gaúchos que também teriam se beneficiado do esquema do desvio de selos. Segundo publicou o blog de Diego Casagrande (às 16:56), Macalão acusou Edemar Vargas (PTB), Kalil Sehbe (PDT) e Paulo Brum (PSDB) de participarem do esquema.

Paulo Brum é o atual primeiro vice-presidente da Assembléia Legislativa.

* Kalil Sehbe era o queridinho de um vereador de Dois Irmãos, alguém lembra? Uma pista hoje esse vereador está no PP.

AGRICULTURA

Os gastos previstos para a agricultura em 2008 são de absoluta penúria e sugerem que a governadora paulista teve em mente a pujança industrial do seu estado de origem ao indicá-los. Sim, porque só num estado onde a agricultura ocupa um espaço marginal se pode imaginar um orçamento tão franciscano. Para se ter uma idéia do tamanho da pobreza, basta ver que enquanto a despesa total do orçamento de 2008 cresce em 9% a da agricultura decresce em 22%.
COMO ERA NO GOVERNO OLÍVIO?

A análise em separado dos recursos previstos para investimentos é mais preocupante ainda. Em 2002 os investimentos em agricultura foram da ordem de R$ 115 milhões em valores atualizados, representando 18,37% dos investimentos totais da administração direta. Já para 2008 Yeda reduz estes valores para 38 milhões de reais, o que significa um terço do investido no último ano do Governo Olívio. Isto vale dizer que os investimentos previstos para a agricultura caem para 5,7% dos investimentos totais da administração direta contra 18,3% de 2002.
Fonte: Deputado Marcon PT

quarta-feira, setembro 19

JN JÁ TEM CANDIDATO A PRESIDENTE

Paulo Henrique Amorim Conversa Afiada



Máximas e Mínimas 650

. O Jornal Nacional desta terça feira, dia 18, fez reportagem sobre um suposto “mensalão” do PSDB de Minas.

. A reportagem envolve o senador Eduardo Azeredo, do PSDDB, e o Ministro Mares Guia, da articulação política do Presidente Lula.

. Mas o JN nem chegou perto do nome mais ilustre do PSDB de Minas, o Governador Aécio Neves, que aparece em todas as listas do “mensalão” mineiro.

. Quem disse que já conhecia o teor da denúncia que o Procurador-Geral da República fará sobre o suposto “mensalão” de Minas foi a revista IstoÉ.

. Como a IstoÉ tem características de um jornalismo chamemos de ... inconsistente ..., a reportagem pode ter sido o primeiro torpedo contra a candidatura de Aécio à Presidência da República.

(Clique aqui para ler sobre a reportagem da IstoÉ e quem botava dinheiro no “valerioduto”)

. Como se sabe, os adversários do presidente eleito José Serra correm, sempre, o risco de ser alvejados por torpedos sob a forma, por exemplo, de dossiês.


. Só que Aécio Neves parece que venceu essa primeira barreira – se, de fato, o torpedo partiu do Palácio dos Bandeirantes - da longa caminhada que o aguarda, até ser escolhido o candidato do PSDB a Presidente.

. E venceu com direito a medalha de ouro.
. O Jornal Nacional não se deu ao trabalho de incluir Aécio Neves entre os envolvidos no “mensalão” de Minas.

. José Serra deve estar a se roer de raiva ...

POBREZA CAI AO MENOR NÍVEL DESDE 1987

Em 2006, a pobreza atingia 26,9% da população brasileira. É o mais baixo índice desde 1987, quando estudos nesse sentido começaram a ser feitos pela economista Sonia Rocha, do Iets (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade), com base em informações da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) do IBGE.
Em números absolutos, houve queda de 10,6% no contingente de pobres no país -de 54,884 milhões de pessoas em 2005 para 49,043 milhões em 2006. Ou seja, em um ano, 5,841 milhões de brasileiros se afastaram da linha da pobreza.
Segundo o estudo, o total de indigentes que vivem no país também baixou -de 6,8% da população em 2005 para 5,7% em 2006.
Segundo Sonia Rocha Os resultados refletem melhorias no mercado de trabalho, o forte reajuste real do mínimo e a expansão das transferências assistenciais [entre elas, o Bolsa Família], que atingem R$ 20 bilhões em 2006, contribuem para o aumento da renda das famílias na base da distribuição e a redução da incidência de pobreza. O aumento dos preços dos alimentos abaixo da inflação média de 2006 também contribuiu para diminuir a pobreza no país. É que as despesas com alimentação pesam mais no bolso dos mais pobres.

Nota do Paulinho: É por isso que a Elite não se conforma, um metalúrgico, um homem do povo fazendo o que nenhum dos seus doutores fez, uma verdadeira revolução na vida dos mais pobres. Por manchetes como estas que Lula é uma ameaça para essa Elite e de tudo fazem para impedi-lo sem sucesso. O Brasil agora, têm um estadista de verdade e ele é do povo para a "dor-de-cotovelo" dos “arautos” da sociedade brasileira.

Leia a Matéria completa aqui na Folha de S. Paulo só para assinantes

terça-feira, setembro 18

ELOGIO DA DIALÉTICA (Victor Hugo)

A injustiça passeia pelas ruas com passos seguros.
Os dominadores se estabelecem por dez mil anos.
Só a força os garante.
Tudo ficará como está.
Nenhuma voz se levanta além da voz dos dominadores.
No mercado da exploração se diz em voz alta:
Agora acaba de começar:
E entre os oprimidos muitos dizem:
Não se realizará jamais o que queremos!
O que ainda vive não diga: jamais!
O seguro não é seguro.
Como está não ficará.
Quando os dominadores falarem
Falarão também os dominados.
Quem se atreve a dizer: jamais?
De quem depende a continuação desse domínio?
De quem depende a sua destruição?
Igualmente de nós.
Os caídos que se levantem!
Os que estão perdidos que lutem!
Quem reconhece a situação como pode calar-se?
Os vencidos de agora serão os vencedores de amanhã.
E o "hoje" nascerá do "jamais".

A IMPRENSA BRASILEIRA VIROU PARTIDO POLÍTICO

A imprensa no Brasil é um partido político. É o que diz o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos (*) em entrevista ao jornalista Paulo Henrique Amorim publicada em seu site Conversa Afiada. A entrevista faz parte de um projeto sobre a mídia conservadora , que chegará ao seu final em 2008. Amorim pinça algumas das mais lúcidas afirmações do intelectual:
-A imprensa no Brasil se considera indestrutível, porque: ela resiste à democratização, à republicanização do Brasil.
-Os militares brasileiros hoje se submetem mais à lei do que a imprensa.
-Para Wanderley Guilherme dos Santos, restou à imprensa brasileira ter a capacidade de gerar crises, instabilidade política.-No Governo Lula, a imprensa pratica o “quanto pior melhor”, que, antes, atribuía à esquerda: ela combate políticas que, sabe, são benéficas ao país, mas não tolera que sejam praticadas por um líder comprometido com as classes populares.
-"Isso (o compromisso com as classes populares) é algo que irrita e, conseqüentemente, faz com que aumente a disposição da imprensa para acentuar tudo aquilo que venha a dificultar e comprometer o desempenho do governo”, continuou o professor.

Leia a íntegra da entrevista com o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos:

Quando se fala em mídia como o “Quarto Poder”, qual é a primeira coisa que lhe vem à cabeça?
A primeira coisa que me vem à cabeça: não é uma particularidade nacional. Porque, na verdade, na teoria democrática clássica, não havia previsão para o aparecimento de um lugar institucional com poder político relevante. Então, você tinha o Parlamento e você tinha o Executivo. O Parlamento podia ser dividido em duas casas, como quando tem Senado e Câmara, ou ser unicameral. O Executivo podia ser ou de gabinete ou uma Presidência da República. Mais o Judiciário, quando árbitro dos conflitos eventualmente surgidos entre as duas instâncias anteriores. Mas não havia, não há previsão em nenhuma teoria, de algo, de uma instituição que veio a ser a imprensa. Como também, aliás, não havia para as Forças Armadas. Não se concebia que as Forças Armadas viessem a ser um ator político relevante.Mas, sobretudo a imprensa. Porque, de certo modo, ela encarnaria não um poder, mas a vigilância do poder. Era a garantia do direito de opinião, a garantia do direito de expressão de idéias e a garantia de vigilância dos poderes constituídos. Então, era muito mais um órgão defensivo e reflexivo, do que interferente. A partir do momento em que você tem uma sociedade de massa, ou seja, o tamanho do eleitorado traz novidades para o funcionamento da democracia – ninguém jamais imaginou eleitorado de mais de dez milhões de pessoas –, isso também trouxe uma modificação do papel das instituições. Em princípio, elas interagem com estas massas que têm peso.O resultado foi que aquelas instituições que, de certa maneira, condicionam e influenciam a formação de opinião das massas, fazendo com que a disposição delas se altere ou se incline numa direção ou em outra, aquelas instituições passaram a ter um papel de importância.A imprensa, os órgãos de comunicação e informação, na medida em que condicionavam e orientavam a inclinação desta população, e o peso delas se tornando cada vez maior dentro do funcionamento das democracias, fizeram com que esta instituição, a imprensa, passasse a ter um papel híbrido: de um lado, refletia o real; e de outro, ao mesmo tempo, interferia, interfere e condiciona as alternativas deste real.É necessário deixar claro que isso não aconteceu por nenhuma conspiração, nenhum plano previamente estipulado. Foi assim, numa democracia de massa, com o problema do populismo, por exemplo. Este novo papel desempenhado pela imprensa, envolvida no seu papel constitucional, teórico, de expressão de opinião, controle e vigilância da ação dos poderes públicos, e, ao mesmo tempo, cobrar responsabilidade desta instituição pública, tem que ter norma a que deva obedecer, tem que ter instâncias de julgamento – com o qualquer agente público. E não se trata de julgamento estritamente policial, trata-se de julgamento político. Não existe consenso sobre como conciliar esta responsabilidade, que deve ser cobrada neste ato público, com o que é fundamental também numa democracia - que é o respeito à liberdade de imprensa, à liberdade de opinião.Quer dizer, a liberdade de expressão de opinião é crucial e essencial na definição do que é democracia. Quando esta expressão de opinião pode de alguma maneira trabalhar contra a democracia, cria um problema. É o mesmo problema que se coloca em relação a partidos revolucionários. Democraticamente, é necessário que se permita a organização em partidos as diversas opiniões, correntes. Agora, em que medida este direito deve ser ou pode ser assegurado a partidos cujo objetivo é fazer com que desapareçam as instituições que permitam que ele exista - isso é uma complicação numa teoria democrática. Então, esse é um problema contemporâneo da imprensa, não é só no Brasil: como conciliar os dois papéis que a imprensa tem. Primeiro, como instituição da sociedade privada de exprimir o que se passa no mundo e a opinião da população. Por outro lado, na medida em que se comporta como ator político, ter instâncias que cobrem responsabilidade política dessa instituição.

Este problema já foi resolvido em algum país ?

Institucionalmente, não. O que você encontra é uma evolução da cultura política e também do poder da sociedade civil, do poder privado. Na verdade, até agora não se criaram instituições consensuais para a solução deste problema. Tem sido resolvido pela idéia gradativa de redução da importância da imprensa, como condicionador das atitudes da população. Isso é o que tem acontecido nas sociedades ricas, porque dependem cada vez menos das políticas de governo. Porque são ricas, porque a sociedade é abundante, então, a opinião que os jornais e as televisões começam a distribuir – dizer que o governo é isso, que o governo é aquilo, isso não tem conseqüência sobre a vida privada dos cidadãos. E por isso mesmo a opinião da imprensa deixa de ser relevante. Então, o que tem acontecido nos países mais estabilizados, não é que se tenham criado instituições de controle ou de chamada à responsabilidade, mas que os jornais e as televisões vêm perdendo importância.

Especificamente no Brasil, como é que esse cenário se desenvolveu? Quem se aproveitou?

Quem se aproveitou eu não sei. No Brasil, você tem uma circunstância peculiar que é o fato de que as empresas jornalísticas têm os interesses empresariais também fora do circuito de informação. Então, isso faz com que as opiniões da imprensa não se apóiem apenas, como se diz, pelos preceitos de seus comentários, mas pelo interesse de matérias econômicas também, que são defendidos sob a desculpa, o contexto de que está sendo defendido o interesse da população. Então, este aspecto é o aspecto que não se encontra muito nos países desenvolvidos: a distância entre empresas, empresas jornalísticas que têm interesses comercias e empresariais, além dos interesses jornalísticos.E isso cria uma situação muito particular, porque, afinal de contas, os interesses econômicos e empresariais de proprietários de jornais deviam ter suas instâncias de defesa e não utilizar a imprensa para isso. Mas, esta é a peculiaridade do Brasil. E é isso o que se mistura com freqüência no Brasil: as campanhas políticas desenvolvidas pela imprensa, sob o pretexto de que são questões que se quer públicas, mas, na verdade, são interesses privados dos próprios empresários jornalísticos.Paulo Henrique Amorim costuma dizer que em nenhuma democracia importante do mundo os jornais e uma só emissora de TV têm a importância política que têm no Brasil.Quer dizer, só em países mais ou menos parecidos com o Brasil. Fora países, digamos, com renda per capita inferior a 30 mil dólares, fora países desta faixa, isso não existe. Ou seja, em todos os países (com renda superior a 30 mil dólares), a imprensa não tem esta capacidade de criar crises políticas, como tem nos países da América Latina.

Aqui no Brasil, com esta importância política que os jornais e a Globo têm, como é que eles exercem este poder?

O modo tradicional de exercer o poder em países como o Brasil, e isso tem acontecido historicamente com freqüência, é a capacidade que a imprensa tem de mexer na estabilidade, ou seja, de criar crises, cuja origem é simplesmente uma mobilização do condicionamento da opinião pública. O que a imprensa nos países da América Latina, e particularmente no Brasil, têm é a capacidade de criar instabilidades. É a capacidade que a imprensa tem de criar movimentação popular, de criar atitudes, opiniões, independentemente do que está acontecendo na realidade. Isso é próprio de países latino-americanos, mas particularmente no Brasil, em que as empresas jornalísticas têm poder econômico e capacidade e disposição para a intervenção política. Então, a arma da imprensa no Brasil, o seu recurso diante dos governos: esta capacidade de criar instabilidade política.

Como é que o senhor vê o papel da mídia no governo Lula ?

Tem dois aspectos. O primeiro aspecto é fato de o governo Lula ser um governo inédito no Brasil. É realmente um governo cuja composição de classe, cuja composição social é diferente de todos os governos até agora. Isso não foi e dificilmente será bem digerido. Agora, em acréscimo a isso, é que, ao contrário do que se teria esperado ou gostariam que acontecesse, este é um governo que até agora tem se mantido fiel à sua orientação original, independentemente das discussões internas do grupo do PT. A verdade é que as políticas do governo têm prioridades óbvias, que são as classes subalternas. Isso é algo que irrita e, conseqüentemente, faz com que aumente a disposição da imprensa para acentuar tudo aquilo que venha a dificultar e comprometer o desempenho do governo.

Em que outros episódios da Historia do Brasil a imprensa usou a arma da instabilidade?

No Brasil, tivemos em 1954, com a crise que resultou no suicídio de Vargas, em que tudo foi utilizado. Documentos falsos que foram apresentados como verdadeiros, testemunhos de estrangeiros que seriam associados a confusões internas...Houve em 1955, na tentativa de impedir a posse de Juscelino Kubitschek. E em 1961, na crise de Jânio, na sucessão do Jânio. E em 1964.Depois, durante o tempo do período autoritário, evidentemente, houve uma atuação explícita da imprensa. Não se falava a favor, mas também não se desafiava. Com o retorno da democracia, a imprensa interveio outra vez, na sucessão de Sarney, com todas as declarações e reportagens absolutamente falsas em relação ao candidato das forças populares, que já era Lula. Isso se repetiu nas duas eleições de Fernando Henrique, mas mais moderadamente. Foi bastante incisiva durante a primeira campanha. Na segunda, a imprensa se comportou razoavelmente. Houve certas referências, mas nada escabroso.Mas, os dois últimos anos, foram inacreditáveis em matéria de criação de fatos sobre nada: foi inacreditável. Para 50 anos de vida política, é uma participação à altura dos partidos políticos e dos militares. Quer dizer, fazem parte da política brasileira os partidos, as Forças Armadas e a imprensa.

Destes episódios que o senhor listou qual o senhor acha que é o mais emblemático?

Eu acho que dois episódios. Primeiro, a tentativa de impedir a posse de Juscelino Kubitschek. Por quê? Porque Juscelino não era intérprete ou representante de uma classe ascendente. Ele pertencia à elite política. Era um homem do PSD – Partido Social Democrata. Juscelino era um modernizador. Portanto, a tentativa de impedir a sua posse mostra o radicalismo e a intolerância das classes conservadoras brasileiras. Quer dizer, naquele momento, não aceitava nem mesmo um dos seus membros, porque era um modernizador. Este episódio é bem emblemático. Não houve nada de dramático, de trágico ou suicídio, mas é um exemplo de até onde pode chegar a intolerância do conservadorismo brasileiro. É impressionante. Esse foi pra mim um episódio que define muito bem até onde o conservadorismo é capaz de violar os escrúpulos democráticos.

E o segundo?

É agora com Lula, porque a posse de Lula realmente revela uma nova etapa histórica no país. E revela o quanto o conservadorismo se dispõe a comprometer o futuro do país, pelo fato de o governo estar sendo exercido pelo intérprete de uma nova composição social. Isto é, há um grupo parlamentar e há grupos privados – e neles se inclui a imprensa - dificultando a implementação de políticas que são reconhecidamente benéficas ao país, porque estão sendo formuladas e implementadas por um governo intérprete das classes populares. Isso é impressionante. Quer dizer, no fundo, aquilo que os conservadores dizem que as forças populares – segundo eles, para a esquerda, quanto pior melhor –, na prática, quem pratica o quanto pior melhor são os conservadores.

Por que, na opinião do senhor, a mídia se considera inatacável, indestrutível?

Ela se considera indestrutível, porque ela tem razões para isso. Ou seja, uma das instituições que até agora vem resistindo à democratização, à republicanização do país é a imprensa. Um país moderno e democrático é um país em que não existe instituição ou pessoa com privilégio de direitos, pessoa que não seja submetida à lei. Na medida em que a democracia se implanta nos países, se reduz o número de instituições e grupos sociais que não se submete à lei. Todo mundo fica, de fato, igual diante da lei. Isso vem acontecendo gradativamente, vagarosamente, mas inapelavelmente no Brasil. Na realidade, nós temos até que as Forças Armadas hoje, no Brasil, estão mais democraticamente enquadradas, mais juridicamente contidas do que a imprensa. Hoje, é muito mais difícil para um representante das Forcas Armadas violar impunemente as leis do que a imprensa.


(*) Wanderley Guilherme dos Santos é diretor do Laboratório de Estudos Experimentais e pró-reitor de Análise e Prospectiva da Universidade Candido Mendes, professor titular aposentado de teoria política da UFRJ, membro-fundador do Iuperj.

Seus últimos cinco livros publicados são:



  1. Governabilidade e Democracia Natural (FGV editora, 2007)

  2. O Paradoxo de Rousseau (Editora Rocco, 2007)

  3. Horizonte do Desejo (Editora FGV, 2006)

  4. O Ex-Leviatâ Brasileiro (editora Civilização Brasileira, 2006)

  5. O Cálculo do Conflito (UFMG, 2003)

OPOSIÇÃO QUER DEVOLUÇÃO DE ORÇAMENTO PARA EXECUTIVO

Requerimento dirigido ao presidente da Assembléia Legislativa, Frederico Antunes (PP), protocolado no final da tarde desta terça-feira (18), pede a devolução do projeto orçamentário à governadora Yeda Crusius e a suspensão dos prazos para a apresentação de emendas parlamentares. Proposto inicialmente pela bancada do PT, o pedido contou com a adesão do PDT, PSB e PC do B. A oposição argumenta que a proposta orçamentária é inconstitucional, pois não apresenta equilíbrio entre a receita e a despesa e nem aponta alternativas para cobrir o déficit declarado de R$ 1,27 bilhão. O líder da bancada do PT na Assembléia Legislativa, Raul Pont, afirma que não há novidade na apresentação de um orçamento deficitário. O aspecto inusitado e inconstitucional do orçamento do Estado para o próximo ano, segundo ele, é a omissão do Executivo no que diz respeito à apresentação de alternativas para supir o déficit. “No orçamento deste ano, o déficit apresentado foi de R$ 1,5 bilhão. Para o próximo ano, a previsão é de R$ 1,27 bilhão. A diferença é que, desta vez, não há qualquer preocupação do governo em apontar medidas para buscar o equilíbrio”, salienta.Conforme o requerimento da oposição, o projeto enviado pelo governo ao Legislativo não respeita a Lei 4320, que regra a elaboração dos orçamentos, transgride a Lei 10.336/94, conhecida Lei Villela, ao ignorar a necessidade de equilíbrio entre receita e despesa, e viola o artigo 165 do Regimento Interno da Assembléia Legislativa, por se tratar de “matéria manifestamente inconstitucional”. Embora reconheça que a obrigação para definir a forma para cobrir o déficit orçamentário seja do Executivo, o líder petista aponta a revisão da política de benefícios fiscais como uma alternativa. “São seis bilhões que deixam de entrar nos cofres públicos por conta da renúncia fiscal. A revisão de um quarto destes benefícios seria suficiente para garantir o equilíbrio para o próximo ano”, contabiliza. Sem emendas O deputado Adão Villaverde (PT) chama a atenção para o fato de que o projeto do governo dificulta a apresentação de emendas. “Não há como cortar, portanto, não há como apresentar emendas. Isso nunca aconteceu antes. Não se trata só de tolher funções do Legislativo, mas de estabelecer um novo padrão de relacionamento com a Assembléia”, aponta.Segundo ele, além de remeter ao Legislativo um orçamento em que não há qualquer alusão quanto à forma com que o Executivo pretende cobrir o déficit, a proposta não expressa nenhuma preocupação social. “Além do compromisso fiscal, o governante, obrigatoriamente, deve ter preocupação social. O orçamento para 2008 está muito longe disso. Nem mesmo obrigações constitucionais com a saúde e com a educação estão sendo observadas”, enfatiza.A bancada do PT espera que, até esta quarta-feira (19), a presidência da Assembléia Legislativa apresente uma resposta oficial para o pedido de devolução do projeto de orçamento ao governo do Estado.

O VÔO DA GALINHA


















Flávio Aguiar

Artigo publicado originalmente no site da Agência Carta Maior:

Vejam as manchetes:População brasileira sobe 1,42% e atinge 187,2 milhões. Desemprego tem a maior queda em 10 anos e renda sobe. Trabalho infantil recua em 2006. Acesso a telefone sobe em todas as regiões em 2006. Aumenta parcela de brasileiros que se dizem negros.(A propósito: com isso, a parcela dos brasileiros que se declaram negros, pardos, índios e amarelos passou de 50% da população). Número de estudantes no nível superior cresce 13,2%. Alta da renda do brasileiro é a maior desde 95. Desemprego em 2006 é o menor em 10 anos. População do país está envelhecendo. Acesso à internet cresce mantendo disparidades regionais. Não, internautas, não eram manchetes de uma Carta Maior, às vezes acusada de ser “chapa-branca” por fazer o contraponto à mídia conservadora e marrom que pretende ter a hegemonia do enquadramento da opinião pública para que esta espelhe seus interesses.
Eram manchetes colhidas a esmo nas páginas virtuais dos jornalões brasileiros, que espelhavam os dados do Pnad do IBGE. Depois, nas páginas impressas, viriam análises, algumas tentando favorecer FHC e o ano de 96, sem se dar conta de que assim só sublinhavam a débâcle que foram os anos subseqüentes de seu governo.
Dava para ouvir o rilhar de dentes e sentir as lágrimas de ódio que corriam nas redações conservadoras, nos grotões da história onde a élite e seus arautos vivem sem querer arredar pé.
E tais notícias saem quando esses mesmos grotões perdem, ainda que momentaneamente, o renânico véu com que tentavam tapar a visão do país verdadeiro e profundo. Não perdem por esperar, contudo. Com certeza o renânico personagem, que os serviu tão bem durante tantos anos, e que ao longo deles foi tão calorosamente acolhido e preservado, voltará a lhes dar motivos para baterem o bumbo do moralismo dirigido.
Mas no momento, enquanto tais índices afloravam à superfície das manchetes, o odiado Presidente Lula era recebido com festejos protocolares Europa afora, como o primeiro dignatário de uma grande nação (com problemas graves sem dúvida) que é, e não como o bufão de um paiseco bananeiro, que é como as élites e seus arautos gostariam de impingir à opinião pública que somos.Mas nas mesmas manchetes pairava a detestável ameaça sobre os que não suportam esse país habitado por um zé povinho (para elas) que teima em ser o povão (palavra intraduzível em outras línguas) dos nossos sonhos e do pesadelo delas: “Acelerar distribuição de renda é o maior desafio, diz presidente do IBGE”.É isso que as élites e os economistas neo-liberóides (porque liberal, Liberal, assim com letra maiúscula, é outra coisa) detestam e de tudo fazem para impedir, alegando riscos inflacionários, bolhas e vôos de galinha.Pobres galinhas! Quem já viu uma galinha voar sobre a cerca dos galinheiros sabe do espantoso que isso é, mais maravilha do que o balão do Bartolomeu e o 14-bis do Santos Dumont.Pois é isso que apavora a élite e seus arautos: perceber que a galinha está escapando do cercado. Por cima dele.

Flávio Aguiar é editor-chefe da Agência Carta Maior.