Numa cidade muito próspera, localizada no Vale do Rio dos Sinos, mulheres e homens extremamente esforçados levantavam cedo todos os dias e seguiam para o seu trabalho, com o orgulho de terem um ofício capaz de dar sustento às suas famílias e de gerarem a riqueza da cidade em que viviam. A vida era muito complicada para aquelas pessoas, pois passavam o dia inteiro dentro das fábricas, recebiam baixos salários e, o pouco tempo que restava para o lazer, era usado com os afazeres domésticos e com os cuidados com os filhos.
Pois foi nesse contexto que o proprietário do jornal da cidade, Alaca, teve a grande idéia de criar uma espécie de monstro, inspirado pela obra do historiador Niccolò di Bernardo Machiavelli. Ele considerava que aquele era o momento ideal para apresentar aos cidadãos da cidade uma espécie de político, o "Demagogic monstru", mais conhecido como "trambiqueiro". E foi assim que Alaca começou a construir sua fantástica criaturinha. Escolheu um rapaz de seu convívio, que lhe era leal e deu-lhe a tarefa de entregar diariamente, de casa em casa, um exemplar do seu "tablóide de fofocas". Passado um tempo, bastante satisfeito com o desempenho do seu monstrinho, Alaca fez-lhe uma proposta: "Estás pronto para a próxima tarefa e sei que esta é tua ambição. Por isso, de hoje em diante, terás todo o apoio deste jornal para ser vereador da cidade. Tudo o que fizeres, por mais insignificante que seja o gesto, será fotografado e publicado no nosso jornal. Teu nome estará estampado nas manchetes diárias e teus feitos serão valorizados e engrandecidos. Serás conhecido por toda a população e, na próxima eleição, serás eleito com grande quantidade de votos. Basta aceitares ser meu aliado...".
O "monstrinho", babando de entusiasmo, não teve dúvidas e aceitou a proposta.
Em seguida, os jornais começaram a exibir manchetes fantásticas sobre os atos banais do "monstrinho", que rapidamente crescia e se tornava popular em toda a cidade, principalmente junto à classe média, que era a principal "receptora" das ideologias direitosas do tablóide diário de Alaca. As pessoas pagavam para ter a (des)informação que julgavam necessária, e Alaca e seu monstrinho ficavam cada vez mais vaidosos e ambiciosos.
Com o apoio de uma parcela da classe média, o monstrinho se elegeu vereador, sendo aclamado por muitos como "a grande renovação da política" e "um promissor administrador".
Mas o "monstrinho" tinha um defeito: ele não conseguia disfarçar sua prepotência e arrogância, herdadas de família. Não tardou para que começassem a surgir conflitos dentro do seu "próprio ninho", ou seja, junto aos seus correligionários... O monstrinho botou as unhas para fora e, em conluio com alguns colegas vereadores, conseguiu derrubar e tirar de cena o que ele e Alaca julgavam ser seu principal rival da cidade. Este rival despertava a inveja do monstrinho porque desenvolvia um bom trabalho na área ambiental, defendendo e trabalhando na revitalização da bacia do rio que cortava a cidade. Isso, realmente, era uma ameaça ao "brilho" do monstrinho.
Passados dois anos, o "Demagogic monstru" julgou que já estava preparado para alçar vôos mais altos. Alaca, o dono do jornal, continuava a apoiar o seu monstrinho e a dedicar-lhe espaços generosos nas páginas do tablóide. O monstro decidiu, então, lançar-se candidato a deputado. Propagandeava, aos quatro cantos e para quem quisesse ouvir, que era o responsável pela formação de uma associação de estudantes. Ele escondia que, na verdade, a associação era fruto do trabalho coletivo de diversos jovens que se reuniam, durante vários finais de semana seguidos, para acertar o estatuto e toda a papelada da nova entidade. Outro grande feito que o "Demagogic monstru" se orgulhava em alardear era o fato de sempre ter se posicionado contrário a tudo e a qualquer proposição vinda da oposição, podia ela ser boa ou fiscalizatória. O monstro sempre votava contra qualquer iniciativa apresentada pelos oponentes, independentemente de isso ser bom ou não para a cidade. E foi assim que o seu sonho de se tornar um grande deputado não se concretizou. O monstrinho não obteve votos suficientes para eleger-se. Alguns dizem que foi por falta de carisma. Outros dizem que foi sua prepotência e arrogância. Mas a verdade é que o "monstrinho" do Alaca não morreu. Ele continua vivo e seu corpo continua crescendo. Comentam, por aí, que ele anda "afiando suas garras".
O fato é que ele ficou conhecido como "o rei do oportunismo" e, até hoje, tem uma queda arrebatadora por jornalistas e máquinas fotográficas. A população da cidade está atenta e deve tomar cuidado, pois essa espécie de monstro sempre ressurge. Alaca, o "pai" do monstrinho, já demonstrou que não vai desistir, e insiste que nas veias do seu pupilo corre um sangue com instinto Bornhauseniano. Na verdade, o grande sonho de Alaca é acabar com um partido de oposição da cidade...
Você leu este texto até aqui e está fazendo analogias com certas pessoas? Não se preocupe. Isso é apenas uma fantasia e, antes que eu esqueça, "qualquer semelhança é mera coincidência".