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sexta-feira, junho 20

QUAL O MOTIVO DO SILÊNCIO DA IMPRENSA GAÚCHA?

O jornalista Marco Aurélio Weissheimer, da Carta Maior, encontrou uma pista para explicar o tratamento cordial - e tardio - dispensado pela mídia hegemônica ao escândalo de corrupção no governo tucano de Yeda Crusius. Pesquisando os documentos que o Ministério Público Federal apresentou contra a quadrilha que roubou o Detran, ele descobriu que os líderes desta maracutaia investiram na formação de opinião pública favorável bancando anúncios publicitários nos jornais gaúchos. Um lobista do PSDB acusado de integrar a máfia diz, numa carta à governadora, que vários colunistas da mídia comercial foram pagos com dinheiro do esquema ilícito.
Na página 56 do documento, o Ministério Público é taxativo: "O grupo investia não apenas na imagem de seus integrantes, mas também na própria formação de uma opinião pública favorável aos seus interesses,ou seja, aos projetos que objetivavam desenvolver. A busca deproximidade com jornais estaduais, os aportes financeiros destinados acontrolar jornais de interesse regional, freqüentes contratações de agências de publicidade e mesmo a formação de empresas destinadas à publicidade são comportamentos periféricos adotados pela quadrilha para enuviar a opinião pública, dificultar o controle social e lhes conferir aparente imagem de lisura e idoneidade".
Colunistas ou mercenários?
O documento não revela quais os jornais ou colunistas que prestaram o serviço sujo à máfia do Detran. Diante da gravidade da denúncia, o Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande Sul enviou pedido à CPI que apura o caso para que sejam nominados os profissionais e veículos,"pois não é justo que toda a categoria seja colocada sob suspeição".
Já os jornais estaduais - a rigor, existem apenas dois, Zero Hora e Correio do Povo - fingiram-se de mortos diante da grave revelação do MPF. Até agora, a imprensa gaúcha simplesmente nem citou o trecho do documento.
Além das referências feitas pelo Ministério Público ao braço midiático da máfia, outro indício do envolvimento de jornalistas aparece numa carta do empresário Lair Ferst à governadora Crusius. Nela, o lobista tucano diz ser vítima de campanha difamatória por parte de integrantes da máfia e cita o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, JoãoLuiz Vargas, e José Antonio Fernandes. Segundo confessa, a quadrilha "conta com uma série de colunistas de vários jornais que tem remuneração paga por José Fernandes para plantar notícias". As investigações da Polícia Federal indicam que Ferst se envolveu numa briga interna no grupo pelo controle da rapina do Detran.
Colapso da ética no jornalismo
O lamentável, como afirma Marco Aurélio, é que a imprensa nada divulgue sobre essas relações promíscuas. "Apesar de todas essas informações, a mídia gaúcha decidiu silenciar sobre o tema. Acusados,de forma generalizada, de ter recebido verba publicitária de integrantes da quadrilha, os jornais do Estado não publicaram uma linha sequer sobre esse assunto espinhoso". O mesmo tem ocorrido na mídia nacional. Mas o ruidoso silêncio não é de se estranhar. Há muito que a mídia comercial mantém relações corrompidas com o poder, como prova Bernardo Kucinski no imperdível livro "O jornalismo na eravirtual - ensaios sobre o colapso da razão ética".
Ele mostra que sempre existiu no Brasil uma imprensa "marrom", feita de matérias compradas e de deturpações grosseiras para favorecer grupos econômicos e políticos ou simplesmente para vender mais jornal.
Cita Assis Chateaubriand, que ergueu seu império dos Diários Associados com base num jornalismo inescrupuloso. "A corrupção é uma prática sedutora na indústria de comunicação pelo fato de nela se combinar o poder de influenciar politicamente a opinião pública com opoder econômico. Nenhuma outra indústria tem essa característica. É uma prática também comum entre os jornalistas, por sua proximidade no jogo de influência dos poderosos".

quinta-feira, junho 19

SUMIÇO DE 18 MILHÕES EM CONTRATOS DO BANRISUL GANHA DESTAQUE NACIONAL

A Folha de São Paulo publicou matéria nesta terça-feira sobre o relatório preliminar do Tribunal de Contas do Estado do RS (TCE) que apontou irregularidades como “omissão de receita” de cerca de R$ 18 milhões em contratos do Banco do Estado do RS (Banrisul) com a Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Faurgs) para desenvolver projetos de modernização tecnológica. Segundo o relatório, a Faurgs apresentou em sua contabilidade uma receita de R$ 6,2 milhões no exercício de 2006. No mesmo ano, porém, a fundação recebeu só do contrato com o Banrisul (firmado com dispensa de licitação) R$ 24,2 milhões. Outra irregularidade apontada pelo TCE foi a subcontratação, pela Faurgs, de empresas para desenvolver os projetos de modernização tecnológica.
A investigação do TCE foi motivada pelas denúncias encaminhadas pelo vice-governador Paulo Feijó (DEM), no final de 2007. Feijó vem pedindo a demissão de Fernando Lemos (foto), que preside o banco desde 2002, primeiro ano do governo Germano Rigotto (PMDB). Lemos, ligado politicamente ao senador Pedro Simon (PMDB), foi mantido no cargo por Yeda Crusius, que rechaçou os pedidos de Feijó para que ele fosse demitido. As denúncias de Feijó sobre irregularidades no Banrisul foram a razão pela qual o ex-chefe da Casa Civil do governo Yeda, Cézar Busatto (PPS), foi conversar com o vice-governador para fazer-lhe uma “oferta de trégua” em busca de um “modus vivendi”. Na conversa, Busatto diz que o Banrisul é utilizado para financiar campanhas eleitorais do PMDB. Feijó gravou a conversa e divulgou-a. Segundo o TCE, a Faurgs fez uma intermediação de contratos celebrados de modo irregular, “uma fórmula encontrada para burlar o processo licitatório”.

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publicado no blog Diário Gauche