Twitter

sexta-feira, junho 15

"NOVO JEITO DE GOVERNAR"

Avaliação do governo Yeda Crusius despenca no RS
Marco Aurélio Weisseimer - Carta Maior
A aprovação do governo Yeda Crusius (PSDB) segue caindo no Rio Grande Sul, conforme dados levantados pela mais recente pesquisa do Instituto da Universidade Luterana do Brasil (Dataulbra). Na pesquisa divulgada nesta quarta-feira (13), a aprovação do governo do Estado atingiu o índice de 30,7%, registrando queda em relação a abril (36%) e a fevereiro (52%).Ou seja, em cinco meses, o governo Yeda perdeu mais de 20 pontos em termos de aprovação, caindo de 52% para 30,7%. A pesquisa foi realizada de 4 a 6 de junho de 2007 em 43 municípios gaúchos, abrangendo quatro intervalos demográficos (1-30 mil; 30-50 mil, 50-100 mil eleitores e acima de 100 mil). Ao todo, foram realizados 1.133 questionários em cidades de 12 regiões do Estado A margem de erro é de 3%.60,5% reprovam modo de Yeda governarDo total de entrevistados, 55,6% disseram não acreditar que Yeda Crusius fará um bom governo e 65% responderam que ela não está cumprindo as promessas de campanha. Já 45,9% responderam que o governo de Yeda não está sendo nem melhor nem pior do que o governo anterior (Germano Rigotto, do PMDB).A avaliação Ruim/Péssimo de Yeda chegou a 43,3%, contra apenas 16,1% de Bom/Ótimo e 34,7% de Regular. Quando perguntados se aprovam ou não o modo como a governadora vem conduzindo o Estado, 60,5% responderam que não aprovam, contra 30,7% de aprovação.Comparação com governo LulaA pesquisa também avaliou o governo federal no RS: 55% dos entrevistados aprovaram o desempenho do governo Lula (índice superior aos 52% verificados em abril). O presidente Lula obteve nota 5,7 (contra 5,6 em abril e 6,0 em fevereiro).Já Yeda ganhou nota 4,3 (4,2 em abril em 5,3 em fevereiro). Ainda em relação ao governo federal, 54,6% dos entrevistados acreditam que o presidente Lula fará um bom governo, mas 50,1% pensam que ele não está cumprindo suas promessas de campanha. Para 40%, o segundo governo Lula não está sendo nem melhor, nem pior que o primeiro.Assim, na comparação entre os desempenhos dos governos Lula e Yeda, os números do Dataulbra ficaram assim:Lula: 55% de aprovação - Nota 5,7Yeda: 30,7% de aprovação - Nota 4,3Os números da nova pesquisa do Dataulbra (a terceira este ano) indicam que a governadora começa a perder, já no início de seu governo, boa parte do capital político acumulado nas eleições de 2006. Yeda recebeu 51,54% dos votos totais e 53,94% dos válidos. Olívio Dutra (PT) ficou com 44,01% 46,06% dos válidos). Foi no Rio Grande do Sul também que Lula teve um de seus piores desempenhos eleitorais. O candidato tucano Geraldo Alckmin recebeu 55,35% dos válidos contra 44,65% de Lula. Agora, após cinco meses, o "novo jeito de governar", bordão de Yeda na campanha, acumula mais de 60% de desaprovação entre o eleitorado gaúcho.

quinta-feira, junho 14

REFORMA POLÍTICA






















Pelos debates, maioria é contrária à lista fechada; votação é adiada
Definitivamente não haverá consenso para votar a reforma política configurada no PL 1.210/07. Por quase dez horas, os deputados debateram nesta quarta-feira, 13/06, no plenário da Câmara os eixos que estruturam o projeto – financiamento público exclusivo de campanha e a lista fechada.

No debate, o que se viu foi um “bombardeio” contra a lista fechada. O voto em lista nada mais é que o fim do voto no candidato para se votar no partido.

A votação dos dois itens da reforma política foi adiada para a próxima terça-feira, dia 19. O resultado ainda é uma incógnita. Apenas três partidos decidiram votar a favor da lista – PT, PCdoB e o DEM. Mesmo assim no PT, a metade da bancada é contrária à lista. São totalmente contrários, o PDT, PSB e, por maioria, PP, PTB, PSDB e PR.

Tal como está formulada hoje, a tendência é que a lista seja derrotada, considerando-se o debate desta quarta-feira. Uma série de outros temas foi inserida no debate como o voto distrital puro e uma variação dele, o misto. O projeto recebeu 244 emendas de plenário.

O fiel da balança
O fiel da balança para adiar a votação foi o PSDB. A bancada tucana na Câmara, com 57 deputados, tendia a votar favoravelmente à instituição da lista partidária fechada, mas decidiu votar contra a medida em reunião realizada na terça, dia 12. Os líderes partidários haviam acertado que a adoção das listas partidárias seria o primeiro ponto da reforma política a ser examinado.

Diante da divisão, o deputado Ronaldo Caiado (DEM/G), um dos relatores do projeto, vai agora examinar todas as propostas para apresentar outro projeto de lei (substitutivo), com algumas mudanças.

Alguns parlamentares defendem sistemas alternativos, capazes de assegurar tanto a escolha pessoal do candidato da preferência do eleitor quanto o peso partidário ou ideológico nas eleições.

É nessa linha que deve caminhar a nova proposta de Caiado. Ele pode incorporar ao substitutivo emenda da deputada Rita Camata (PMDB/ES) que possibilita ao eleitor votar em uma lista determinada pelos partidos, mas dando-lhe a chance de escolher o seu preferido dentre os nomes apresentados. Há ainda a possibilidade de se incorporar uma emenda que determina que o voto seja facultativo.

DEBATE ABERTO

Os atributos de Vavá
Criaram, na imprensa, um personagem fantástico, feito de retalhos de inquéritos, retalhos de declarações do próprio presidente, retalhos de declarações de seu sósia na vida real, o cidadão brasileiro Genivaldo Inácio da Silva.
Passei um mês fora do Brasil, e me esqueci, por causa daquelas correrias, de pedir a transferência dos jornais entregues por assinatura para o endereço de uma das minhas filhas. Resultado: como a faxineira que freqüenta minha casa é muito diligente e respeitadora, lá estavam eles – os jornais – convenientemente empilhados, aliás, gigantescamente empilhados. O folhear daquela pilha passadiça me confirmou a impressão que eu tivera pela internet. Os deserdados do segundo turno de outubro de 2006 continuam na ativa – ainda que deserdados, é verdade. Não há o que fazer, para eles, a não ser CPIs, e procurar ataques à probidade do presidente. Não há programas a apresentar, idéias a debater. Só a moral do presidente interessa, e só a do presidente e de seus arredores. Criaram, na imprensa, um personagem fantástico, feito de retalhos de inquéritos, retalhos de declarações do próprio presidente, retalhos de declarações de seu sósia na vida real, o cidadão brasileiro Genivaldo Inácio da Silva, irmão mais velho do mandatário da nação. Esse personagem chama-se Vavá. Vavá está em toda a parte, Vavá é o band-aid da falta de assunto, Vavá é imorredouro, Vavá é tudo e é nada, é lobista e é ingênuo, é um vírus e é o inocente-útil, é falastrão e é calado, tudo depende da manchete e da notícia. Vavá é melhor do que Roberto Jefferson: ao contrário deste, Vavá quase nada parece ter a dizer. Então pode se lhe atribuir tudo. Vavá ligou para o presidente. O outro irmão do presidente ligou para Vavá. Aliás, não se sabe se foi propriamente o irmão, só se sabe ao certo que o telefonema partiu de um telefone da família, e que provavelmente a voz em questão deve ser desse outro irmão. É uma novela de suposições. Provas, investigação jornalística, muito pouco há. Há ilações a partir de fragmentos de relatórios e inquéritos, de conjeturas e suposições. Mas de tudo se pode tirar uma conclusão segura. O que interessa mesmo é mostrar como Vavá (o personagem, do irmão de Lula, pelo noticiário, pouco sei), esse Vavá, é canhestro, é desajeitado, como ele parece ter feito lobby sem saber fazer lobby. Lobby, afinal, é coisa de gente fina. Pobre faz lobby? Não, responde esse noticiário grotesco. Pobre pede. É diferente. A conclusão dessa leitura acumulada é uma só: é nisso que dá por alguém "do povo" no Palácio do Planalto. É que nem casamento: os noivos não casam só um com a outra, ou com o outro, ou uma com a outra, nestes novos tempos (felizmente) mais abertos que o Brasil vive; os noivos casam com as respectivas famílias também. E vejam no que dá fazer a família de pobre (e petista ainda por cima!) chegar à rampa do Palácio. Dá lobby? Não, não só. Dá ridículo, dá vergonha, é isto que o noticiário exala. Pobre é desajeitado, quando fala se lambuza de palavras e de poder, vejam só! Enquanto isso, o país vai melhor. Em muitas coisas, em outras não, é claro. A economia vai melhor, o povo vai melhor, muito melhor do que nunca esteve, pelo menos desde os tempos dos finados doutores Getúlio e Juscelino. O dólar baixa, o poder aquisitivo cresce, as famílias tem mais dinheiro para gastar (há economistas preocupadíssimos com isso), o euro nunca esteve tão baixo em relação ao real, a economia se aquece aqui e ali, ou seja, há um país inteiro a decifrar: que pauta! Mas as esfinges do nosso jornalismo ímpares só têm uma pergunta a se fazer: como impedir daqui para frente que o povo possa imaginar que um deles – ou mesmo um que governe em nome deles, por eles e para eles – possa permanecer impune, imune, no Palácio do Planalto. Flávio Aguiar é editor-chefe da Carta Maior.

TARCÍSIO ESPERA MAIS DO GOVERNO FEDERAL

Diante do anúncio das medidas para estimular os setores prejudicados pela cotação do dólar, feito no início da semana pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, o deputado Tarcísio Zimmermann fez a seguinte manifestação: "Enfim, parece que a equipe econômica do Governo levou um puxão de orelhas do Presidente Lula".
Tarcísio, no entanto, vê com reserva as novas medidas anunciadas, que consistem, basicamente, na disponibilização de financiamentos com condições privilegiadas para os setores exportadores, na área do crédito: "Isto nós já conquistamos há mais de um ano, quando o Governo disponibilizou cerca de um bilhão de reais em linhas de crédito para os setores intensivos em mão-de-obra. Mas não foi o suficiente para resolver os problemas dos exportadores, uma vez que grande parte das empresas tem problemas cadastrais devido às suas dívidas acumuladas, ficando impossibilitadas de acessar esses créditos. Apesar de serem bem-vindos estes novos financiamentos, o que realmente precisamos, agora, são de medidas de maior profundidade que reduzam os custos da produção no País", frisou o deputado.
Tarcísio lembra, ainda, que no dia 22 de março, o Ministério da Fazenda recebeu relatórios que comprovavam o alto aumento da carga de PIS e COFINS nos últimos anos e que, portanto, o Ministério já teria tido tempo suficiente para se manifestar sobre este assunto, que é de crucial relevância para a solução da crise. "Estas medidas inicialmente anunciadas são importantes, mas continuaremos pressionando o Governo a adotar ações que efetivamente devolvam a competitividade à nossa produção, sobretudo ações que incidam sobre o campo tributário", finalizou.

A GUERRA REQUENTADA

por Antonio Luiz M. C. Costa - Carta Capital

Embora o G-8 seja o fórum dos maiores poderes reais do planeta – mais de dois terços do PIB (segundo a taxa de câmbio) e 97% das armas nucleares do mundo – e suas iniciativas não sejam embaraçadas por estruturas burocráticas ou votações complexas, suas reuniões geralmente foram mornas, rotineiras e aparentemente amigáveis.
Salvo algumas medidas de coordenação contra o terrorismo e a pedofilia, suas resoluções desde 1997, quando a incorporação da Rússia deu ao fórum a configuração atual (que soma nove membros com a União Européia), não foram muito além de promessas vazias de ajudar países pobres, reduzir barreiras comerciais e, nos últimos anos, também de pensar mais seriamente no aquecimento global. Abafada pela malfadada incursão israelense no Líbano, a reunião de 2006, em São Petersburgo (Rússia), mal foi notada.
Desta vez, porém, criou-se um clima de tensão e real expectativa em torno da reunião no balneário de Heiligendamm – perto de Rostock, na antiga Alemanha Oriental. Não pelo ativismo dos críticos da globalização, embora estes estejam recuperando o ímpeto perdido com o 11 de setembro e tenham dado trabalho aos 16 mil integrantes das forças de segurança mobilizadas para mantê-los a distância. As razões mais fortes para ansiedade estão nos crescentes desentendimentos entre as potências nucleares sobre questões cada vez mais difíceis de ignorar ou adiar.
Em 17 de janeiro, os especialistas do Boletim de Cientistas Atômicos adiantaram em 2 minutos – até 5 para meia-noite, a hora mais adiantada desde o fim da Guerra Fria – o “relógio do fim do mundo”, que, desde 1947, procura medir o risco de extinção da humanidade.
Agora, as razões do ajuste não estavam nas tensões entre Washington e Moscou, mas nas ambições nucleares de nações periféricas como Irã e Coréia do Norte, nos riscos de tráfico nuclear e, pela primeira vez, também a ameaça do aquecimento global. Esta, segundo o físico britânico Stephen Hawking, porta-voz da publicação, representa agora uma ameaça maior que o terrorismo.
Cinco meses depois, há motivos para pensar que o Boletim vai mover o ponteiro para ainda mais perto da vertical. Não só os novos problemas continuam sem solução à vista, como os velhos voltam com roupagem diferente.
O presidente russo Vladimir Putin preparou-se para a reunião do G-8 com um exercício não visto em seu país há algum tempo: o teste de um novo míssil balístico intercontinental. Substituto dos mísseis RS-18 e RS-20 (lançados em 1967 e 1974 e capazes de conduzir seis e dez ogivas, respectivamente), o RS-24 foi apresentado como capaz não só de transportar dez ogivas, como também de alterar sua altitude e curso em vôo hipersônico, para evadir defesas antimísseis. O Kremlin esclareceu tratar-se de uma resposta à instalação desse tipo de defesa pelos EUA na Europa Oriental e ameaçou transformá-la em mais um alvo de seus mísseis, caso o Pentágono prossiga com seus planos.
Washington quer dez antimísseis interceptadores na Polônia, combinados a uma estação de radar na República Tcheca. O pretexto é proteger os aliados de um eventual ataque nuclear do Irã ou da Coréia do Norte. Teerã ainda está muito longe dessa capacidade. Se esta existisse e os aiatolás tivessem algum interesse concebível em atacar a Europa, o local adequado para a defesa seria a Turquia, membro tradicional da Otan. Quanto à Coréia do Norte, é evidente que, caso tivesse mísseis com esse alcance, os apontaria na direção oposta. O desafio é tão claro quanto o de Kruchev ao instalar mísseis em Cuba, em 1962 – o momento em que o mundo esteve mais perto de uma guerra nuclear.
Dez antimísseis parecem pouco ante os 927 mísseis intercontinentais em poder de Putin – sem falar de milhares de mísseis nucleares de menor alcance –, mas a Rússia não tem por que encorajar um precedente. Além disso, a partir da era Bush júnior, os russos precisam levar mais a sério a possibilidade de um ataque “preventivo” dos EUA a seus silos, que deixaria aos russos sobreviventes poucas dezenas de mísseis para retaliação.
No complicado pôquer da dissuasão nuclear, dez antimísseis podem de fato fazer diferença – mesmo que seu verdadeiro propósito talvez seja o de mero prêmio de consolação para a Boeing e outros financiadores da campanha republicana desapontados com a postergação indefinida das ambições originalmente muito mais amplas do programa Guerra nas Estrelas.
Os governos de Varsóvia e Praga, ansiosos por se atrelar mais solidamente à carruagem de Washington e afastar o risco de retornarem ao rebanho de Moscou, receberam a iniciativa estadunidense com entusiasmo. Já a seus povos, o risco de se tornarem alvos preferenciais de um eventual choque entre potências parece bem menos atraente: pesquisas de opinião deste ano indicaram que 57% dos poloneses e 68% dos tchecos se opõem à instalação. Muito compreensível, especialmente considerando-se que a eficácia dessas armas é incerta mesmo contra mísseis baseados no velho Scud (como os usados por Saddam na primeira guerra do Golfo), quanto mais contra mísseis intercontinentais avançados. Muitos dos testes reportados fracassaram, inclusive o último, em 29 de maio.
Por lamentável que seja o autoritarismo de Moscou em sua política interna e nas suas relações com vizinhos, a deterioração nas relações com o Ocidente deve-se em maior grau à obsessão dos EUA com isolar ou neutralizar qualquer concorrência, diplomática ou militar, à sua hegemonia unilateral. Mesmo o ex-líder Mikhail Gorbachev, crítico de Putin, acusa a embriaguez de Washington com o sucesso no novo jogo iniciado após o fim da Guerra Fria, o do “novo império”.
Quando da invasão do Iraque, França e Alemanha esboçaram alinhar-se à Rússia para conter o unilateralismo estadunidense – e esta, por sua vez, somou-se ao Protocolo de Kyoto, passo decisivo para fazê-lo sair do papel. Entretanto, Chirac e Schroeder deixaram o governo, o fracasso da União Européia em aprovar seu projeto de constituição minou suas pretensões a uma política externa ativa e própria, enquanto seus interesses se distanciavam dos russos graças à disputa pelo preço do gás e por influência na Europa Oriental.
Conseqüentemente, a Rússia se afasta da parceria com os ricos com a qual lhe acenaram na era Clinton e tende a procurar aliados entre colegas exportadores de energia, tais como o Irã e a Venezuela. Ao mesmo tempo, o peso ainda enorme do G-8 na economia global começa a diminuir devido ao crescimento acelerado de alguns países emergentes, principalmente a China e a Índia. Apesar de estarem fora do clube, ambas as nações já são economicamente mais relevantes que membros tradicionais do grupo e também já se impuseram ao mundo como potências nucleares.
Em termos práticos, mesmo um difícil consenso do G-8 já não teria peso suficiente para ditar decisões ao mundo em muitos aspectos relevantes. Por essa razão, desde 2005, cinco grandes nações representativas dos países periféricos – China, Índia, Brasil, México e África do Sul – têm sido convidadas a conversar, configurando o chamado O-5 (“O” de outreach, extensão). Em termos de paridade de poder aquisitivo, o peso econômico dessas nações tem crescido na mesma proporção em que o do G-8 tem diminuído: em 1996, representavam 21% do PIB global ante 49% das oito potências, e hoje a proporção é de 42% para 28%.
O diálogo, entretanto, tem frustrado a principal expectativa dos europeus, principalmente da Alemanha de Angela Merkel – a saber, a aceitação pelo O-5 de um compromisso para limitar o aquecimento global a 2 graus, o que implica emissões globais em 50% até 2050. A China – que a partir do ano que vem deve tirar dos EUA o papel de maior emissor de gases de efeito estufa, assumiu também o papel antes reservado aos republicanos de Washington, o de pôr em dúvida as conclusões científicas sobre o aquecimento global.
Dentro do próprio G-8, Bush júnior insiste em um laissez-faire que inviabiliza uma decisão séria. Embora em fevereiro seu governo tenha abandonado o anterior ceticismo oficial sobre o aquecimento global, no Painel Intergovernamental das Alterações Climáticas da ONU, levou ao G-8 uma proposta de “redução voluntária” de emissões, independentemente do Protocolo de Kyoto e de resoluções da ONU, cujo objetivo evidente era esvaziar os foros multilaterais e os avanços que obtiveram. Foi devidamente criticado pelo presidente Lula na entrevista ao jornal britânico Guardian de 1º de junho. Mesmo a China, a menos interessada em metas compulsórias, recusou a iniciativa de Washington como substituição do Protocolo.
Por outro lado, como outros países periféricos, a China recusa-se a aceitar metas de redução proporcionais às dos países ricos, com o argumento bastante razoável de que seu padrão de vida ainda é muito inferior e sua produção de poluentes per capita é cinco vezes menor que a dos EUA. Também exige ajuda financeira e tecnológica maciça para possibilitar que ela e outros países em vias de industrialização se desenvolvam sem agravar o problema ambiental, compromisso que os desenvolvidos estão longe de assumir.
A postura pode ser justa, mas o resultado prático é um impasse que poderá se prolongar até ser tarde demais para limitar as conseqüências provavelmente catastróficas do aquecimento global. Enquanto isso, acirra-se a disputa sobre fontes de energia e água cada vez mais escassas em relação ao crescimento acelerado da demanda global. Da superarmada Rússia à frágil Bolívia, países com reservas energéticas lutam para maximizar o valor de seus recursos e empregá-los em seu próprio crescimento econômico e industrial.
Se apagões energéticos e hídricos causados pela escassez objetiva não bastarem para agravar tensões internacionais, haverá o problema politicamente ainda mais complicado de dividir e administrar mundialmente as cotas de emissão de gases, potencialmente equivalentes à autorização ou proibição do crescimento econômico. E muitos cientistas não vêem qualquer alternativa prática e compatível com o controle do aquecimento global além de recorrer à energia nuclear em escala sem precedentes, multiplicando oportunidades para disseminação de armas nucleares, entre nações menores e mesmo grupos terroristas.
O mundo nunca precisou tanto de alguma espécie de governança global – e o G-8 nunca esteve tão distante do consenso necessário para formular uma proposta, quanto mais para torná-la aceitável aos novos poderes emergentes. Os EUA, a Rússia, a Europa e os novos países industrializados formam blocos de interesses aparentemente inconciliáveis: um busca hegemonia absoluta em todos os aspectos, o segundo tenta controlar a oferta da energia, o terceiro insiste em um status quo que já não consegue defender e o quarto em conquistar seu lugar ao sol. É uma receita não só para ressuscitar a Guerra Fria como para aquecê-la de maneira tão perigosa quanto ocorreu com a “paz armada” que antecedeu as guerras mundiais.