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quarta-feira, janeiro 17

FORUM NA ÁFRICA

Em um país cercado pelos conflitos da Somália, Etiópia e Sudão, as tensões da guerra serão parte do próximo FSM.

Neste inicio de 2007, um país e uma região africana em conflito estão no imaginário dos movimentos sociais e altermundistas que participarão de mais uma jornada do Fórum Social Mundial. Situado no leste africano, o país que em janeiro receberá ativistas de todo mundo é banhado pelo Oceano Índico e cercado por uma vizinhança tensa e famosa.Na fronteira norte do Quênia, sede do encontro, está a Etiópia, que no final de 2006 mobilizou suas tropas para defender o governo transitório de outro país, a Somália, vizinha nordestina do Quênia. O governo não é aceito por uma grande parcela islâmica dos somalis.
A Etiópia foi à guerra na Somália com o apoio da União Africana, contra os Tribunais Islâmicos que detinham o controle de toda parte sul do país vizinho, incluindo a capital, Mogadiscio. Estes tribunais, por sua vez, têm apoio de outro país do Corno da África, a Eritréia, e, segundo os Estados Unidos, do líder da Al Qaeda, Ayman Al-Zawahiri.De acordo com a BBC, Al-Zawahiri teria apeladoaos muçulmanos vizinhos (do Egipto, do Sudão e do Maghreb Árabe), em entrevista ’a TV Al Jaazera, para que participem de uma Guerra Santa (Jihad) na Somália contra o governo e seus apoiadores.As cortes islämicas (11 ao todo, reunidas na UCI - União dos Tribunais Islâmicas em 2006), defendem a volta da lei tribal islâmica Sharia e estão enfraquecidas desde a invasão das tropas etíopes.O Quênia, no meio do caminhoA guerra está acontecendo agora e o palco de possíveis negociações entre apoiadores do governo Somali é o Quênia, país que também sediou a formação do governo provisório em 2004. Enquanto delegações dos quatro continentes se organizavam para o VII FSM, o país anfitrião recebia em Nairóbi, neste início de janeiro, representantes da Etiópia, Estados Unidos, União Africana e do governo transitório da Somália, para tratar de uma força de paz africana que substitua as tropas etíopes.Mais algumas semanas são previstas pelo primeiro ministro etíope, Meles Zenawi, até que suas tropas sejam substituídas pela força de paz. Em outras palavras, não existe um prazo para que a invasão recém iniciada da Somália termine. Ou que cessem os confrontos com a resistência islâmica.Nesse intervalo ocorrerá o FSM, pela primeira vez tão perto dos conflitos sangrentos envolvendo questões étnicas e culturais, com a miséria e a globalização como panos de fundo. Quase na divisa com o Quênia está Kismayo, cidade reduto dos islâmicos agora tomada pelo exército etíope. A saída é o país vizinho, embora o Quênia tenha fechado as fronteiras e comece a mandar de volta para o inferno, para horror do resto do mundo, levas de refugiados(as) , a maioria mulheres e crianças.
A memória de um genocídio
O grupo de nações em conflito constituem, acima do Quênia, a área geográfica que tem a forma de um chifre de rinoceronte, daí o nome da vizinhança explosiva. Ela fervilha com mais de uma guerra. Ao lado da Etiópia, a noroeste do Quênia, está o Sudão, que atravessa dias não menos dramáticos, com nada menos que 2,5 milhões de habitantes desabrigados, procurando refúgio dentro e fora do país. A tragédia vem de alguns anos, enquanto a ONU decidia se o que estava ocorrendo lá era ou não genocídio. O fato é que mais de 200 mil pessoas foram dizimadas na região da capital, a cidade de Darfur, desde 2003. A população africana negra acusa até hoje as milícias árabes, chamadas Janjaweed e apoiadoras do governo sudanes, de junto com este terem promovido tal genocídio.Agora, muitos habitantes desalojados procuram saida pelo Jade e pelo Quênia. Por isso, populações desabrigadas em decorrência de conflitos étnicos, além de todas as outras causas conhecidas para a falta de moradia nos países pobres, constituem uma realidade com a qual o FSM vai se deparar bem de perto. No final do ano passado, os conflitos no Sudão recomeçaram, também sendo motivo de uma proposta de intervenção militar por forças de paz da ONU.Abaixo do Sudão, à oeste do Quênia, está Uganda, cujo parlamento já aprovou a inclusão de tropas na força africana para a Somália. Ninguém ao redor do Quënia está livre da tensão da guerra que ameaça toda a região.
Heranças tristes
Compreender um pouco melhor o resultado de um coquetel explosivo formado pelo confronto entre militarismos e fundamentalismos, em um cenário de abandono e miséria, é um dos desafios do FSM. Mas a interferência externa está entre as principais causas das guerras religiosas e étnicas que hoje se desenrolam naquela região da África.Fora a participação ocidental na formação dos governos transitórios que depois se voltaram contra parcela da população, como foi o envolvimento dos EUA na origem do governo sudanês que acabaria perseguindo e matando africanos(as) negros(as), existe a herança deixada pela colonização européia."O Quênia, enquanto país, é uma construção política decorrente de sua colonização britânica, iniciada durante o século XIX e somente terminada em 1963", explica o queniano Samwel Kamau Githiru, que estudou no Brasil nos anos 90. Essa colonização foi responsável pelas fronteiras hoje conhecidas e que foram feitas, como ele explica, "com o intuito de dividir etnias aliadas e unir rivais. Assim, sua população se enfraqueceria entre disputas internas e os colonizadores teriam maior facilidade em explorar suas riquezas naturais". Hoje, a preocupação so Ocidente está no risco de ver a Somália transformada em um estado islâmico. Ou, simplesmente, fora de controle.

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