Twitter

domingo, fevereiro 17

COTAS SOCIAIS E RACIAIS

Caio Britto*
Nos dias que se seguiram ao vestibular da UFRGS temos acompanhado pela mídia uma forte movimentação de vestibulando e familiares que se sentiram lesados pela implementação das cotas sociais e raciais na universidade. Em tempos de “salve-se quem puder” essas são atitudes que consideramos normais, mas se olharmos do ponto de vista do interesse social, isto não passa de uma tentativa de burlar as regras do concurso vestibular, bem como fazer os interesses individuais se sobreporem às políticas públicas.
Quando inscritos ao vestibular todos sabiam as regras que estavam sendo dispostas pela universidade e seus conselhos, sabiam todos que haveria uma reserva de vagas de 30% para estudantes oriundos de escolas públicas e que a metade destas seriam destinadas ao que se autodeclararem negros. Ou seja, nenhum candidato ao vestibular poderia alegar que sofreu prejuízo, pois as regras do ingresso na universidade estavam claras.
Alguns questionam a validade das cotas raciais, alegando que estas são um instrumento de racismo e que ferem a constituição, pois fariam diferenciação entre negros e brancos, mais isto obviamente não é verdade. A igualdade entre raças é um objetivo a ser alcançado pela nossa sociedade, que não está concretizado, hoje temos leis que proíbem a discriminação de etnias, porém não tem poder para garantir a igualdade de condições. Basta analisarmos a participação dos negros na sociedade para percebermos que eles estão alijados dos espaços de poder devido à sonegação de oportunidades e a falta de igualdade para o desenvolvimento de suas potencialidades. As cotas raciais não visam compensar diferenças sociais do passado, mas sim de enfrentar a injustiça presente, onde tem acesso à universidade pública uma esmagadora maioria branca.
As cotas sociais e raciais não são de maneira absoluta uma solução para as desigualdades raciais em nosso país, elas devem fazer parte de um conjunto de políticas de expansão e fortalecimento da universidade pública, bem como de qualificação e valorização do ensino fundamental, básico e médio da rede pública, como também integrado a políticas de estado, que visem o crescimento econômico, criação de empregos e distribuição de renda.
O processo de implementação das cotas na UFRGS foi bastante traumático, onde episódios de intolerância racial fizeram parte deste debate, quando muros próximos à universidade amanheceram pichados com mensagens racistas. Esperamos que episódios como estes não se repitam, principalmente no retorno das aulas e no trote dos calouros.


* Estudante de Ciências Sociais da UFRGS
Texto públicado no blog Aldeia Gaulesa!

Um comentário:

Mrsherval disse...

É uma lástima que se tenha imposto as cotas. Dessa forma, se "separa" cada vez mais as raças diferentes.
Não seria mais lógico, moral, justo e racional cobrar mensalidade dos quais os familiares possuem renda o suficiente para pagar e reverter esses valores para disponibilizar e custear os estudos de menos favorecidos economicamente (independente de cor)?
Não é possível que alguém seja inferior por causa de sua cor, mas pela capacidade financeira sim há muita diferença no ensino.....
Respeito sim, e muito, a sua opinião, somente acho que devias ser mais crítico sobre este assunto!
Um abraço.