Aquele feriado prometia: sol escaldante, temperatura de quase 40 graus, a cidade praticamente vazia, muita gente na praia curtindo os quatro dias de folia. E a festa estava armada no plenário da Câmara Municipal de Dois Irmãos. O vereadores estavam cheios de empolgação para cair na folia de Carnaval. Só que o detalhe: a farra seria com o dinheiro do povo. Isso mesmo: aproveitando o marasmo da cidade com o feriadão de Carnaval, a primeira sessão ordinária do Legislativo de Dois Irmãos em 2008, naquela segunda-feira, 4 de fevereiro, seria o momento ideal para a apreciação do projeto de aumento de 80% nos subsídios dos próprios parlamentares. De quebra, entrariam no trenzinho da alegria também os secretários municipais, o vice-prefeito e o prefeito. Alalaô!!!No meio da orgia, um convidado contrariava as expectativas dos demais foliões e jogava um balde de água fria no meio do salão: o vereador petista Miguel Schwengber subiu à tribuna para protestar contra o absurdo da proposta que, além de imoral – mesmo considerando a tradição profana da festa carnavalesca – abriria um rombo nas finanças do município. O petista bradava, em alto e bom som, que a reivindicação de um reajuste poderia até ser legítima, mas que o índice proposto era uma afronta à população, uma vez que sequer houve oportunidade de debate com a comunidade. “Enquanto o funcionalismo público e as demais categorias de trabalhadores lutam para garantir a reposição da inflação em seus salários, enquanto a população luta por melhores condições na área da saúde, da segurança pública, por obras de saneamento, por melhorias na rede de ensino, vocês vão aprovar um aumento absurdo desses nos próprios salários? Não há justificativa para isso. E mesmo sendo Carnaval, há que se ter um mínimo de vergonha na cara”, discursava o vereador Miguel para um plenário que não lhe dava ouvidos. Moral da história: o petista foi o único, entre os nove vereadores, a votar contra o projeto e, ao final da sessão, a festa culminava com a aprovação do reajuste. Viva o Carnaval em Dois Irmãos!
Mas a ressaca foi grande, e a repercussão da folia também. A festa transformou-se em escândalo e virou manchete nos jornais, rádios e telejornais de todo o País.
No dia 9 de fevereiro, o PT de Dois Irmãos realizou plenária com seus filiados e emitiu uma nota pública exigindo que o prefeito vetasse o projeto aprovado pelo plenário da Câmara. Liderada pelo vereador Miguel, a população de Dois Irmãos, que não participou da farra mas que iria arcar com a conta, também se mobilizou e exigiu retratação.
Diante da pressão popular, o vice-prefeito, constrangido, se viu obrigado a vetar o projeto que ele próprio ajudara a formular dias antes. E os outros oito vereadores, coitados! Tiveram que voltar atrás e acatar o veto do prefeito. Fim de festa para os parlamentares foliões, que devem estar até agora a amargar uma ressaca típica de Quarta-feira de Cinzas.
Texto de Letícia Vargas.
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