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quinta-feira, setembro 23

Cortina de fumaça ou a guerra continua

Artigo publicado no Sul 21:
Obs: Charge do Bira postada por mim

Reuniram-se em São Paulo, ontem, intelectuais ditos democratas, de um lado, para divulgar um manifesto auto denominado “pela democracia”. Reunir-se-ão em São Paulo, hoje, entidades sindicais, movimentos populares e partidos políticos, ditos todos democratas, para realizar um auto denominado “ato público contra a imprensa golpista” e, portanto, também pela democracia. Trate-se, aqui e agora, dos primeiros, e reserve-se o editorial de amanhã para tratar dos segundos.

De onde saíram, na última hora, tantos democratas e por que motivos organizam-se em lados opostos? Claro que a democracia comporta divergências e posicionamentos contrários, mas, para que ela seja efetiva, um rol de requisitos mínimos precisa ser observado por quaisquer que sejam os contendores. O primeiro e mais fundamental deles é o respeito e a aceitação da divergência e dos adversários. O segundo, a explicitação dos objetivos visados.

Dito isto, algumas perguntas se impõe. Por quais motivos esses intelectuais não se assumem publicamente como peessedebistas? Se, como tentam fazer crer os manifestantes, não existem intelectuais democratas no PT, eles não existirão, ao menos, no PV e estes não se mobilizariam em prol da democracia, caso a avaliassem sob ameaça?

Da nominata divulgada de signatários do manifesto dito dos “intelectuais democratas”, apenas três integrantes não são peessedebistas de carteirinha ou não assumidos, a saber: d. Paulo Evaristo Arns, Carlos Velloso e Hélio Bicudo. Este último foi fundador, vice-prefeito e deputado federal petista, antes de romper com o PT. Além dele, também são ex-fundadores do PT e hoje quadros do PSDB os cientistas políticos Leôncio Martins Rodrigues, José Álvaro Moisés e Jose Arthur Gianotti. O primeiro, assessora FHC, o penúltimo, rompeu com o PT para assumir a diretoria de cinema do Ministério da Cultura na gestão FHC e, o último, foi o mentor intelectual da primeira candidatura FHC. Será a alta plumagem tucana que os tornou, enfim, democratas ou trata-se de mais uma das muitas coincidências desta campanha eleitoral? Compõem, ainda, a lista, dentre outros, Celso Lafer e Carlos Gregory, ex-ministros de FHC e, como todos os demais, integrantes do seu círculo íntimo de relações.

Ao que parece, o tucanato acaba de inventar a democracia peessedebista: excludente e oportunista. Não por acaso, a leitura do manifesto ocorreu às portas da Faculdade do Largo do São Francisco, de gloriosa história, ainda que reduto do elitismo quatrocentão paulista.

Há que se perguntar, também, onde estavam estes mesmo “intelectuais democratas” tucanos quando o governo FHC cooptou deputados para compor supermaioria no Congresso, aviltou a Constituição Federal e implantou a reeleição em seu autobenefício? Onde estavam esses mesmos “intelectuais democratas” tucanos quando o governo Lula tentou reavaliar a anistia concedida pela própria ditadura aos torturadores que a serviram e se viu obrigado a recuar a fim de evitar um confronto desastroso com a direita raivosa e golpista? Onde estavam esses mesmos “intelectuais democratas” tucanos durante a mobilização popular pela aprovação da lei da ficha limpa?

Triste sina a da democracia brasileira, se tiver que depender de democratas deste jaez para defendê-la.

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