Agora, no “Le Monde Diplomatique Brasil”, de outubro, ele publica “Os Cadernos Inéditos....”, uma magnífica tentativa de apreender a evolução teórica do revolucionário. Segundo Löwy, “pouco a pouco, Erenesto Che Guevara distanciou-se de suas ilusões iniciais sobre a URSS e o marxismo de tipo soviético”. A partir daí, o sociólogo francês começa a reconstituir a evolução cada vez mais rápida da teoria do Che, que começa numa carta de 1965 ao seu amigo e companheiro cubano Armando Hart que, na época, era ministro da Cultura de Cuba. Che chama de “calhamaços” os manuais soviéticos sobre marxismo, os quais “têm o inconveniente de não o deixarem pensar: o Partido já o fez por você e você deve digeri-lo”. Este primeiro momento de “heresia” tem uma continuidade cada vez mais rápida e sempre mais profunda, num processo radical de busca de um outro modelo de socialismo diferente do soviético, um socialismo “mais solidário, mais igualitário, mais radical” como define Löwy.
Estamos, assim, não diante de um sistema fechado com respostas definitivas para todas as questões. A reflexão de Che Guevara para questões cruciais como a democracia socialista, a luta antiburocrática, a construção da economia, permanece incompleta, inacabada. Entretanto, este caráter de incompletude apresenta aspectos positivos, pois é uma exigência à crítica e ao estudo. O pensamento “guevarista” acaba sendo impossível de ser dogmatizado e transforma-se no oposto aos velhos manuais no estilo soviético. É um pensamento crítico que nunca está imobilizado, uma teoria aberta que encontra os seus fundamentos no grande debate econômico de Cuba durante os anos de 1963 e 64, quando, pela primeira vez surgem suas tentativas de formulação para um caminho diferente de construção do socialismo.
Esta busca de uma alternativa original para o socialismo foi, infelizmente, interrompida em outubro de 1967, quando o guerrilheiro, o rebelde, o revolucionário foi friamente assassinado na Bolívia.
Por Luiz Pilla Vares. Publicado no site PTSUL.
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